Por Sergio Goncalves
LISBOA, 15 Fev (Reuters) - A proposta do fundo activista Elliott para a EDP-Energias de Portugal EDP.LS vender o seu negócio no Brasil não é muito feliz e o Governo português reitera que vê com muitos bons olhos os princípios da OPA da China Three Gorges (CTG), disse o ministro do Ambiente e Transição Energética.
Em entrevista à Reuters, João Matos Fernandes realçou que o Brasil "é um mercado com grande capacidade de crescimento, é muito importante no contexto da América Latina, que é um contexto normal de expansão e de partilha de 'know how' para as empresas portuguesas".
"Sem me meter nunca a fazer comentários sobre aquilo que os accionistas (da EDP) fazem, a ideia (da Elliott) de vender o Brazil não nos parece uma ideia muito feliz", afirmou João Matos Fernandes.
"A EDP é livre de tomar as decisões que quiser tomar, mas vender o Brasil, sair do Brasil, não nos parece que seja importante para aquilo que a EDP representa para a economia nacional. E (a EDP) quererá certamente ser cada vez mais um player mundial no contexto das renováveis", adiantou.
A EDP é um top player europeu em renováveis, com uma larga presença nos EUA e uma operação no Brasil. O Estado chinês é o maior acionista da EDP com 28 pct do capital através dos 23 pct detidos pela CTG e dos 5 pct da CNIC.
Ontem, a Elliott anunciou que enviou à EDP uma alternativa à Oferta Pública de Aquisição (OPA) da CTG, propondo o fundo norte-americano que a EDP cristalize 7.600 ME de valor com vendas de activos, incluindo a alienação dos 51 pct que a 'utility' portuguesa tem na EDP Brasil ENBR3.SA por 2.300 ME. Matos Fernandes realçou que "o Governo português já se pronunciou no sentido de ver com muitos bons olhos aquilo que são os princípios desta OPA que foi lançada relativamente à EDP".
"É uma OPA que robustece a EDP concentrando-a em Portugal a sede de um conjunto de activos que a EDP tem pelo mundo fora".
A oferta da CTG para comprar a EDP e a EDP Renováveis, com respectivos preços de 3,26 euros por acção e de 7,33 euros, foram rejeitados pelas duas empresas portuguesas, apesar de considerarem que o projecto industrial poderia ter potencial.
Os analistas vêm difícil que a CTG consiga o 'OK' das autoridades norte-americanas - Cifius - para comprar os activos nos EUA, bem como da DG COMP europeia já que pode violar as regras europeias de concorrência relativas ao 'unbundling' - a obrigação de separar a produção e a distribuição de electricidade do transporte.
Em Portugal, o transporte de electricidade é fornecido pela REN-Redes Energéticas Nacionais RENE.LS , que é detida em 25 pct pela China State Grid, que, como a CTG, é propriedade do Estado chinês. A EDP produz e distribui electricidade.
"Sobre o correr da OPA propriamente dita nós não temos nada a dizer. É uma empresa privada e (a CTG) é o maior dos accionistas que está a conduzir esta OPA", concluiu.
Sublinhou que "a EDP é uma empresa fundamental para que se cumpram os objectivos de descarbonização do Governo, até porque o sector electro-produtor é um sector chave para que Portugal seja neutro em carbono em 2050".
"E é normal que a maior empresa portuguesa, que concentra uma parcela bastante grande de cerca de 80 pct da produção de electricidade em Portugal tenha de ser um parceiro fundamental neste processo", concluiu.
As acções da EDP seguem a deslizar 0,8 pct para 3,234 euros.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)