Por Sergio Goncalves
LISBOA, 2 Out (Reuters) - A maior cadeia hoteleira de Portugal não vê um impacto dramático na sua operação doméstica com o Brexit, até porque o mercado emissor britânico sempre foi forte apesar das flutuações da libra, disse o Chief Development Officer (CDO) do Grupo Pestana, que quer reforçar a liderança interna e a expansão externa.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), as dormidas aumentaram 11 pct para 65,8 milhões em Portugal durante 2017, impulsionadas pelo aumento de 12 pct das dormidas de não-residentes para 47 milhões, sendo que o principal mercado emissor continuou a ser o britânico com 21 pct do total destas.
No Grupo Pestana, o mercado emissor do Reino Unido tem um peso à volta de 20 pct, ficando naturalmente atrás do mercado português doméstico e espanhol.
"O Brexit vai afectar todos, mas não vai ser uma mudança de paradigma porque sempre vivemos com o factor cambial", disse José Roquette, numa apresentação durante o seu 'Strategy Day'.
Adiantou que, "sem querer minimizar o Brexit, o Reino Unido nunca esteve completamente dentro da União Europeia (UE), sempre esteve com um 'pé fora' e sobretudo no tema monetário sempre esteve com os dois 'pés fora' da UE".
Realçou que "o que vem aí não é completamente novo para o grupo Pestana porque o fluxo britânico sempre esteve muito influenciado pela libra estar forte ou fraca e vai continuar a estar".
"Provavelmente pode ter um pouco mais de turbulência no iniício, mas não será nada de dramático até porque o mercado inglês como mercado emissor é fortíssimo e não vai deixar de viajar, saibamos nós ser competitivos, como temos sido até aqui, para conquistar o nosso 'fair share' de 'out going' inglês".
DIVERSIFICAR
Sublinhou que "o plano de contigência será sempre a diversificação de mercados emissores".
"Por exemplo, quanto ao mercado alemão, Portugal capta menos de 2 pct do 'out going' alemão, talvez duplicar isso fosse importante. A diversificação é o caminho", afirmou.
O Grupo Pestana, que abriu o seu primeiro hotel na Ilha da Madeira em 1972, conta com 90 hotéis e pousadas localizados em 15 países, tendo dois-terços dos seus activos em Portugal.
O CDO destacou que, "para uma cadeia como o Grupo Pestana, que está entre os 100 maiores do mundo e 35 maiores europeias, é essencial a afirmação da marca nos grandes mercados consumidores - daí o actual momento de afirmação no mercado internacional, para além do reforço no mercado nacional".
"Vamos superar os 200 ME de investimento até 2022, vamos abrir cerca de 3.500 novos quartos nos próximos 3 a 5 anos, ultrapassando 15.000 quartos", disse José Roquete.
"Temos um pipeline de 20 hoteis e várias outras frentes negociais em curso. Teremos 10 aberturas nos próximos 18 meses e mais 10 nos 2 a 3 anos seguintes", afirmou.
Explicou que a "capacidade de auto-financiamento do grupo é muito grande, dado que o EBITDA consolidado é de 120 a 130 ME e tem uma dívida que não supera 3 vezes isso, que é um caso raro nas cadeias hoteleiras europeias".
"A geração de 'cash flow' é muito grande e manter um pipeline de 150 a 200 ME não é assim tão pesado, sobretudo porque este pipeline se concretiza ao longo de vários anos",
SOL BRILHA PORTUGAL
Adiantou que "Portugal está num momento turístico extraordinário" e os mais de 22 milhões de turistas que visitaram o país em 2017 era algo impensável há apenas cinco anos.
"O sol está a brilhar para o turismo português (...) Apesar da nossa internacionalizaçao, estamos a fazer o reforço da nossa liderança em Portugal", disse José Roquette.
Explicou que "o grupo Pestana está a fazer vários investimentos em Portugal, alterando o paradigma com o reforço nas cidades de Lisboa e Porto", que tornam o portefólio menos dependente dos resorts da Madeira e Algarve.
Em Lisboa, o grupo tem três hotéis e vai abrir mais um em 2019 e outro em 2020; enquanto no Porto, onde tem três hotéis, inaugurará um novo em Novembro e depois mais dois.
"Estes hotéis vêm preencher o que nos faltava: hotéis de quatro estrelas nestas zonas urbanas muito comerciais", afirmou. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)