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Por Sergio Goncalves e Catarina Demony
LISBOA, 26 Mar (Reuters) - O Banco de Portugal (BP) prevê que a economia portuguesa tenha uma forte recessão entre 3,7% e 5,7% em 2020 devido ao surto do coronavírus, que levará à queda do consumo privado e do investimento empresarial, e ao colapso das exportações.
"As perspetivas para a economia portuguesa deterioraram-se abrupta e significativamente em resultado do impacto da pandemia Covid-19", disse o banco central, num comunicado.
Alertou que "a pandemia corresponde a um choque económico adverso com efeitos muito significativos e potencialmente prolongados no tempo".
No Boletim Económico, com as primeiras estimativas que já incorporam o impacto do novo vírus no travar da economia portuguesa, o banco central vê o consumo privado a cair entre 2,8% e 4,8%, após ter crescido 2,3% em 2019.
As exportações são vistas a descerem entre 12,1% a 19,1% este ano, face ao crescimento de 3,7% o ano passado, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo deverá descer 10,8% e 14,9% versus a taxa de 6,4% a que cresceu em 2019.
A desemprego, que em 2019 fixou em 6,5% ou seja próximo de mínimos, deverá disparar para entre 10,1% e 11,7%.
A economia portuguesa interrompe assim um crescimento sistemático desde 2014, quando o país concluiu um austero resgate externo.
O BP alerta que economia portuguesa tem "vulnerabilidades específicas" face a um choque desta natureza, como a elevada exposição do turismo à "muito significativa" redução esperada da procura global, bem como a pequena dimensão das empresas que já estão numa situação financeira frágil.
"A crise desencadeada pelo novo coronavírus constitui um inédito e sério desafio às diversas políticas económicas, que deverão dar prioridade à resposta de curto prazo ao impacto provocado pela pandemia, mas as considerações de médio prazo deverão também ser tidas em conta", disse o banco central.
Ontem, o ministro das Finanças Mário Centeno disse que Portugal vai regressar à recessão económica e ao défice público em 2020 devido ao impacto do surto do coronavírus no travar a actividade empresarial e às medidas de apoio orçamental decididas pelo Governo. Orçamento de Estado para 2020 estimava um crescimento de 1,9% e um superavit de 0,2% do PIB em 2020.
O Governo português anunciou na semana passada um pacote de 9.200 milhões de euros (ME) de medidas de apoio ao rendimento dos trabalhadores e à liquidez das empresas afectadas pelo surto de coronavírus.
As medidas valem 4,3% do Produto do país e são sobretudo garantias do Estado a linhas de crédito às empresas, apoio em especial a micro e PMEs, manutenção de empregos, assistência a trabalhadores, bem como a suspensão de pagamento de alguns impostos e contribuições para a Segurança Social.
Nas suas projeções, o banco central prevê que a economia portuguesa volte a crescer nos próximos dois anos, entre 0,7% e 1,4% em 2021 e de 3,1% a 3,4% em 2022.
Até ao momento, estão infectados com coronavírus em Portugal 3.544 pessoas, tendo morrido 60. (Por Sérgio Gonçalves e Catarina Demony)