Por Sergio Goncalves
LISBOA, 28 Nov (Reuters) - O 'good bank' Novo Banco tem todas as condições para continuar como uma instituição independente com autonomia estratégica dada a sua inigualável posição no financiamento às empresas portuguesas, disse o CEO António Ramalho, que está optimista que o Fundo de Resolução escolherá um comprador até ao fim do ano.
O Banco de Portugal tem em curso uma segunda tentativa de venda do Novo Banco, tendo o CEO realçado que "o primeiro ponto positivo é que houve várias propostas, e o segundo ponto positivo é que o Fundo de Resolução agora estará num processo natural de negociação e há tempo para a tomada de decisão".
"Eu tenho sido sempre bastante positivo em relação ao final do ano, no sentido da concretização da operação (escolha do vencedor). Não estamos a falar do 'closing' da operação", disse o Chief Executive Officer (CEO) António Ramalho, à margem da entrega de prémios Novo Banco Inovação.
Frisou: "nada me diz, nem me parece que os indícios que existem sejam no sentido de não considerar essa data como uma data indicativa".
INDEPENDENTE
Perguntado sobre se o Novo Banco tem todas as condições para continuar com a autonomia estratégica que tem tido, como um banco independente e não consolidado noutro, o CEO respondeu: "essa pergunta é desnecessária porque um presidente do Novo Banco só aceita ser presidente porque acha que o Novo Banco é uma entidade que por si tem valor e por si se mantém no mercado e cria valor para o mercado".
"Há uma evidência que é esta: o Novo Banco tem 70 pct dos seus activos, mais precisamente 68,9 pct dos seus activos, aplicados a empresas e é por isso o banco das empresas. Não existe nenhum paralelo na banca portuguesa, com números sequer aproximados a estes", sublinhou o CEO.
António Ramalho referiu que "a pergunta é se as empresas precisam do Novo Banco, assim como o Novo Banco no passado precisou das empresas e continua a precisar delas".
E deu a resposta: "eu diria que sim, estes números falam por si próprios e não é uma avaliação subjectiva, é um valor quantitativo".
"Este é o momento em que a gestão tira proveito de todo o trabalho que fez, no sentido de demonstrar a qualidade da instituição financeira e por perante o mercado as vantagens que a instituição financeira tem para o país e para o sistema".
INTERESSADOS
Em 7 de Novembro, o Banco de Portugal anunciou que recebeu cinco propostas para comprar este banco de transição, no âmbito dos procedimentos de venda estratégica e em mercado, mas o banco central não identificou os pretendentes.
Em 30 de Junho, no âmbito do procedimento de venda estratégica, o BP anunciou que tinha recebido quatro propostas para a compra do Novo Banco, na segunda tentativa de alienação deste banco de transição, que surgiu dos escombros do colapsado Banco Espírito Santo (BES) em meados de 2014.
O Banco de Portugal não identificou os interessados, mas fontes financeiras disseram à Reuters que o BPI BBPI.LS , o fundo norte-americano Apollo APO.N aliado à 'private equity' Centerbridge, e a 'private equity' Lone Star apresentaram propostas para comprar o Novo Banco.
Na altura, o Millennium bcp BCP.LS entregou uma carta de interesse com determinado perfil, mas sem avançar uma proposta financeira concreta.
No passado dia 6 de Outubro, em entrevista à Reuters, o secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e Finanças, disse que a segunda tentativa de venda do Novo Banco está a atrair novos interessados, além dos quatro candidatos iniciais, incluindo do China Minsheng Financial 0245.HK que está a olhar.
António Ramalho lembrou que os dois modelos - venda directa e venda através operação de mercado - "foram colocados em paralelo e portanto naturalmente serão avaliados pelo Fundo de Resolução no quadro desse paralelismo", frisando: "acho as duas soluções perfeitamente viáveis e adequadas".
"Muito sinceramente, este é o momento em que devemos deixar, serenamente, o Fundo de Resolução fazer o seu trabalho, sem mostrar qualquer tipo de preferência por qualquer solução", disse.
CAUTELA
O Novo Banco teve o seu primeiro lucro trimestral desde a sua criação em Agosto de 2014, atingindo um lucro de 3,7 ME no terceiro trimestre de 2016, e o CEO manteve a prioridade de solidez do balanço. a sua origem em 2014 teve sempre resultados trimestrais negativos superiores a 250 milhões de euros (ME) e no primeiro trimestre de 2016 teve um prejuízo de 249,4 ME e no segundo trimestre teve um prejuízo de 113,3 ME.
António Ramalho, contudo, recordou que foi "sempre cauteloso na avaliação dos resultados do trimestre e pediu cautela a todos os analistas".
"A avaliação dos resultados demonstra que a margem financeira cresce, e isso é positivo. O produto bancário estabiliza também em crescimento, mas menor do que o crescimento previsto que a mergem financeira poderia indiciar, que é bom mas cauteloso. E os custos estão a reduzir-se de uma forma muito significativa, sem paralelo em nenhum país da Europa".
"Isto são bons indicadores. Mas, também tenho dito que o ano de 2016 é um ano de estabilização e de gestão criteriosa do Balanço - é o ano do Balanço. Só no ano de 2017 é que poderemos ter foco essencial na conta de exploração.
Concluiu: "isso merece cautelas. Assim como uma andorinha não faz a Primavera, um trimestre não faz um resultado anual".
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)