Por Sergio Goncalves
LISBOA, 13 Mai (Reuters) - Portugal vai estender as moratórias de créditos avaliados em 19.000 milhões de euros (ME) para além de Setembro para não colocar em risco o sistema bancário com um salto no malparado, enquanto a economia não estiver suficientemente robusta, disse o ministro das Finanças Mário Centeno.
Os Chief Executive Officer (CEOs) dos cinco maiores bancos portugueses, que detêm mais de 80% dos activos bancários do país, já tinham dito em 22 de Abril que uma extensão da moratória de seis meses poderia ter de ser estendida. questão das moratórias é essencial. Estas medidas, que foram tomadas logo na segunda semana do estado de emergência, vão ter de ser adaptadas ao longo do tempo, estendidas. É exactamente isso que vamos fazer", disse Mário Centeno.
As Finanças estimam que aquelas moratórias já permitiram postecipar o pagamento de 12.000 ME em juros e em capital.
O sector bancário do país ainda está marcado pela crise de dívida e um aumento nos 'non performing loans' (NPLs) após a recessão de 2010-2013, que pressionou muito os rácios de capital e levou ao colapso de bancos como o Banif em 2015.
Desde então, os bancos portugueses lutaram para reduzir o malparado, baixando-o para 17.200 ME (18.700 milhões de dólares) em dezembro de 2019, contra o pico de 50.000 ME em junho de 2016.
Contudo, apesar do rácio de NPL dos bancos portugueses tenha caído para 6,1% do crédito total em dezembro de 2019, ante 17,9% em meados de 2016, ainda é cerca do dobro da média europeia.
"Não há economias a crescer sem um sistema financeiro sólido", disse o ministro das Finanças.
Os bancos portugueses aumentaram o rácio médio de solvabilidade common equity Tier 1 para 14,1% em 2019, de 7,8% em 2011.
GANHAR TEMPO
Mário Centeno adiantou que essa extensão das actuais moratórias de seis meses até Setembro visa garantir que o problema do aumento do malparado "possa ocorrer num momento em que se tenha mais certezas do trajecto da economia portuguesa no contexto global".
"Garantindo que não colocamos em risco nem as instituições bancárias, nem os seus clientes, se a economia ainda não estiver suficientemente robusta para suportar essa transição".
Portugal, que esteve em 'lockdown' desde 18 Março até 2 de Maio, está a sofrer um impacto devastador na sua economia devido ao surto de coronavírus, projectando o FMI a mais profunda recessão em quase um século com o PIB a cair 8% em 2020, enquanto a Comissão Europeia vê uma contração de 6,8%.
"Nós estamos a ter uma política que é contrária à da austeridade, deixámos todos os estabilizadores da economia funcionarem, incluindo novos medidas de apoio à economia, no momento mais recessivo da nossa economia desde sempre", disse o ministro.
Adiantou que a futura estratégia de recuperação da economia portuguesa vai ter também de ser alinhada e coordenada a nível europeu, no âmbito do futuro fundo de recuperação.
"Nós não conseguiremos recuperar a nossa economia enquanto o mercado único europeu, para onde exportamos 75% do que produzimos, não se recompuser", concluiu. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)