(Repete matéria publicada na sexta-feira)
BRASÍLIA, 12 Jan (Reuters) - O rebaixamento da nota de crédito brasileira pela agência de classificação de risco S&P não é um evento político e não deve afetar candidaturas na eleição deste ano, afirmou nesta sexta-feira o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avaliando que a investida já tinha sido precificada pelos mercados.
"Não se deve dar um peso excessivo a isso, transformando isso num evento político do país", afirmou o ministro em coletiva de imprensa, um dia depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixar a nota de crédito da dívida soberana do Brasil para BB-, ante BB (SA:BBAS3), devido à demora na aprovação de medidas para reequilibrar as contas públicas e de incertezas devido às eleições deste ano. é (um evento político). É um movimento técnico que já houve para baixo, já houve para cima, é normal e isso está claramente definido. E, portanto, não acredito que isso afete a perspectiva política do Brasil ou candidaturas ou uma série de candidatos", disse.
O ministro lançou mão deste argumento em diversos momentos durante a entrevista e buscou mostrar otimismo em relação à viabilidade das medidas fiscais e aprovação da reforma da Previdência, apesar da resistência do Congresso em votá-las ter sido indicada pela S&P como um dos fatores para o rebaixamento.
Em outra frente, o ministro adotou um tom conciliador quando indagado sobre a reação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à diminuição do rating brasileiro.
Na véspera, Maia avaliou que o governo havia se enfraquecido muito após denúncias contra o presidente Michel Temer e que não era "correto" transferir aos parlamentares a responsabilidade de a reforma da Previdência não ter sido aprovada.
"Estou confiante que as diversas lideranças do Congresso e do Executivo estão trabalhando juntas e vão continuar trabalhando juntas", disse Meirelles nesta sexta-feira.
O ministro também afirmou acreditar que "quanto mais candidatos melhor" ao ser questionado se eventual candidatura de Maia à Presidência da República poderia atrapalhar a votação de medidas para o rearranjo das contas públicas.
"Acho que é absolutamente legítimo, normal e saudável que líderes relevantes do Brasil possam considerar a possibilidade de postular a Presidência da República. É parte importante da democracia", disse.
Maia e Meirelles têm se movimentado como potenciais presidenciáveis de centro, sendo que o deputado fez uma série de declarações mais incisivas em relação ao ministro da Fazenda nos últimos dias, criticando o programa do PSD em que Meirelles foi protagonista e afirmando que o ministro deveria se dedicar integralmente ao comando da pasta para não prejudicar a economia.
Nesta tarde, Meirelles voltou a dizer que irá decidir sobre eventual candidatura apenas no início de abril.
"Então naquele momento eu vou tomar uma decisão e os fatores que podem levar a essa decisão são os mais variados. A começar por disponibilidade pessoal e outros fatores todos relacionados a toda questão da atividade econômica e também de outras questões para o país", disse.
REVISÃO
O rebaixamento da nota de crédito não muda o plano de voo da equipe econômica, que avalia que o país está no caminho certo tanto em relação a medidas de ajuste fiscal de curto prazo quanto em reformas estruturais, explicou o ministro.
O PIB deve avançar 3 por cento neste ano, estimou Meirelles.
O ministro reiterou que confia na aprovação tanto da reforma da Previdência, quanto de medidas de ajuste fiscal necessárias para cumprir a meta fiscal deste ano, apesar de o governo ainda não ter os 308 votos necessários para aprovar a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. A votação, inicialmente marcada para o final do ano passado, foi adiada para 19 de fevereiro.
O ministro considerou "positiva" a revisão da perspectiva de rating para estável, ante negativa anteriormente. Classificou de "normal" as mudanças nos ratings soberanos para melhor ou pior e apostou que a nota do país vai melhorar em breve.
"A perspectiva de aprovação da reforma da Previdência e de todas as reformas é extremamente positiva, temos certeza de que haverá revisão para cima destes ratings."
O ministro também descartou que a recente discussão sobre mudanças na chamada regra de ouro das contas públicas tenham influenciado a decisão da S&P. Esta previsão constitucional impede que o governo emita dívida para financiar gastos correntes.
O governo adiou o debate com o Congresso sobre mudanças na regra de ouro, alegando dar prioridade à reforma da Previdência. (Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de Mateus Maia; Edição de Iuri Dantas e Maria Pia Palermo)