Há muitos estudos sobre a forma como adiantar osrelógios uma hora no último fim de semana de março conduz a poupanças de energia, embora muitos especialistas tenham afirmado recentemente que as poupanças são insignificantes.
No entanto, os estudos sobre a forma como afeta o corpo, o tempo que vai demorar a adaptar-se e as consequências que irá notar já este domingo e nos próximos dias são claros.
É verdade que nenhum estudo é conclusivo sobre as consequências de uma mudança abrupta de hora nos ritmos circadianos, mas se sentir algum dos seguintes sintomas, saiba que não está sozinho.
De acordo com a Sleep Foundation, as pessoas dormem menos 40 minutos, em média, na segunda-feira após o horário de verão na primavera, e isso tem consequências.
Sintomas recorrentes após a mudança da hora na primavera
- Dificuldade em dormirà noite.
- Sensação de "jet-lag", fadiga e/ou cansaço, mesmo quando dormimos, o que reduz a nossa energia.
- Sonolência diurna, devido ao facto de não ter descansado o suficiente durante a noite.
- Irritabilidade.
- Falta de atenção e de concentração.
- Diminuição do rendimento intelectual e físico.
- Desregulação da sensação de fome, que pode ocorrer a horas impróprias ou mesmo não ocorrer.
Porque é que estes sintomas ocorrem?
Do ponto de vista fisiológico, o efeito mais imediato desta mudança de hora é uma alteração da secreção de melatonina.
Esta hormona regula a vigília e o sono em função da quantidade de luz solar. Se houver menos luz solar, é produzida mais melatonina. Se houver mais horas de luz solar, esta é reduzida e a consequência direta é que a função indutora do sono ocorre mais tarde.
Com a mudança da hora, o horário diário ou de trabalho não se altera, pelo que, do ponto de vista do relógio biológico, acordamos uma hora mais cedo e quebramos a rotina do sono. Isto significa menos descanso.
Sono LUCA BRUNO/AP
Isto é semelhante ao efeito do jet-lag quando se voa entre países com fusos horários diferentes.
Por conseguinte, esta desregulação da secreção de melatonina é suficiente para fazer sofrer o organismo e provocar fadiga, cansaço ou mesmo irritabilidade.
As pessoas mais afetadas pela mudança de hora são as crianças e os idosos, que são mais sensíveis às alterações hormonais. No entanto, é apenas uma questão de tempo até que o corpo se adapte e recupere.
Os médicos alertam para o facto de, em menos de três dias, o corpo adaptar os seus ritmos circadianos à nova hora.
Soluções e conselhos para se adaptar rapidamente à mudança
- Evitar bebidas alcoólicas antes de ir para a cama. O álcool provoca uma perturbação do sono e o descanso será de má qualidade, o que agravará os sintomas da mudança de hora.
- Estabelecer uma rotina de sono consistente. Tente ir para a cama e acordar à mesma hora todos os dias, é uma questão de saúde e prepara-o para estas mudanças de hora. Recomenda-se um mínimo de 7 horas de sono no dia anterior e no dia seguinte à mudança de hora.
- Altere (se puder) gradualmente a sua hora de deitar. É aconselhável adaptar a mudança de hora gradualmente ao longo de dois ou três dias para amortecer o efeito.
- Passe algum tempo ao ar livre durante o dia. A luz natural é o grande motor dos nossos ciclos circadianos. A exposição à luz evitará a sensação de cansaço durante o dia e, à noite, o seu corpo produzirá melatonina para o ajudar a dormir.
- Uma mini-sesta para se adaptar. Muitas pessoas sentem-se privadas de sono e regulam rapidamente essa falta de sono com sestas rápidas de menos de 20 minutos nos dias que se seguem à mudança da hora. Isto é útil se não conseguir ajustar gradualmente a hora a que acorda e se deita.
- Não consumir cafeína antes de ir para a cama. Evitar qualquer fonte de cafeína antes de se deitar ajudará de forma semelhante a evitar bebidas alcoólicas. Uma quantidade moderada de cafeína de manhã não tem qualquer efeito percetível na qualidade do sono noturno.
- A toma de melatonina antes de deitar pode funcionar. No entanto, não é recomendado nestes casos, a menos que sofra de insónia.
Efeitos colaterais e curiosidades da mudança de horário
Muitos estudos trataram da mudança de horário e seus efeitos no organismo e ainda há muitas dúvidas. Não existe uma relação de causa e efeito entre a mudança de horário e os efeitos, mas os dados estatísticos são notáveis.
Um exemplo claro são os estudos que registam um aumento dos ataques cardíacos e dos acidentes vasculares cerebrais nos dias que se seguem à mudança da hora na primavera (dormimos menos uma hora), enquanto o número diminui na mudança da hora no outono.
Existe também uma correlação semelhante e oposta com a taxa de suicídio e o número de acidentes de viação.
Esta aumenta nos três dias após a mudança da hora no outono e diminui na mudança da hora na primavera, devido à alteração das horas de luz do dia.
Não esqueça: estes dados não são conclusivos nem generalizáveis.