O consumo de álcool durante um voo de longo curso pode pôr em risco a saúde do coração dos passageiros que dormem, alertaram os investigadores.
Num novo estudo publicado na revista Thorax, uma publicação mensal revista pelos pares do British Medical Journal (BMJ), investigadores alemães descobriram que o consumo de álcool durante um voo pode diminuir os níveis de oxigénio no sangue e aumentar o ritmo cardíaco durante o sono.
Os investigadores analisaram os níveis de oxigénio no sangue de 48 participantes saudáveis, com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, que foram divididos aleatoriamente em dois grupos.
Um grupo passou duas noites num laboratório do sono, enquanto o outro foi colocado numa câmara de altitude que correspondia a cerca de 2438 metros acima do nível do mar, refletindo a pressão na cabina de um voo comercial.
Os participantes consumiram álcool antes de uma das noites e tiveram duas noites de recuperação de oito horas pelo meio.
Os participantes expostos a uma combinação de pressão da cabina e de álcool viram os seus níveis de oxigénio no sangue diminuir para uma média de 85% durante o sono. O ritmo cardíaco aumentou para uma média de 87,7 batimentos por minuto (bpm).
Isto em comparação com 88% de nível de oxigénio no sangue e 72,9 bpm para os que experimentaram a pressão da cabina sem consumir álcool.
Para o grupo num laboratório de sono que não bebeu, o nível médio de oxigénio no sangue foi de 95,8% com uma frequência cardíaca de 63,7 bpm.
"Esperávamos que a combinação de álcool, sono e hipoxia hipobárica [pouco oxigénio a uma altitude elevada] diminuísse a saturação de oxigénio. Mas ficámos surpreendidos ao ver que o efeito era tão forte", disse Eva-Maria Elmenhorst, uma das autoras do estudo, do Instituto de Medicina Aeroespacial do Centro Aeroespacial Alemão, à Euronews Health.
Elmenhorst acrescenta que o estudo incluiu apenas participantes jovens e saudáveis e, mesmo assim, registou "dessaturações de duração prolongada".
"Traduzindo para a situação num avião, pensamos que especialmente os passageiros com condições médicas pré-existentes podem estar em risco. A saturação de oxigénio pode ser baixa no início e depois cair para níveis ainda mais baixos", afirmou.
Isto pode levar a emergências médicas a bordo, acrescentou.
Uma vez que o estudo incluiu apenas indivíduos saudáveis, não representa a população média, qualificaram os investigadores. As condições de sono também se assemelhavam mais à classe executiva ou à primeira classe do que à económica, uma vez que os participantes dormiam na horizontal.
Os investigadores esforçaram-se por criar uma simulação realista de um voo de longo curso, com uma pressão semelhante à encontrada na cabina de um avião e um ruído de bordo que registaram a uma altitude de cruzeiro.
Os participantes beberam a quantidade de álcool necessária para atingir 0,06% de concentração de álcool no sangue, semelhante aos limites de condução típicos no Ocidente.
Os participantes beberam aproximadamente o equivalente a duas latas de cerveja ou dois copos de vinho, segundo os autores, com uma concentração média de álcool no sangue de 0,043%.
Os investigadores examinaram quatro participantes de cada vez, de modo a que os "passageiros" tivessem um espaço limitado (como num avião) e limitaram o sono a quatro horas, o que se assemelha ao tempo sem perturbações num voo de longo curso.
Elmenhorst afirma que a sua principal recomendação após o estudo é que os passageiros "devem ser alertados para o facto de que o consumo de álcool durante um voo não é isento de riscos".