Uma aplicação para smartphone pode ser utilizada em testes cognitivos para diagnosticar a forma mais comum de demência em pessoas com menos de 60 anos.
Os investigadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos EUA, descobriram que os testes realizados remotamente através de um smartphone podem ajudar a detetar a demência frontotemporal em pessoas geneticamente predispostas a esta doença antes do início dos sintomas.
As perturbações ou demência frontotemporal (DFT) referem-se a várias doenças dos lobos frontal e temporal do cérebro que afectam normalmente pessoas com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos.
Existem vários sintomas de DFT, incluindo alterações comportamentais, dificuldades de relacionamento com os entes queridos e apatia.
De acordo com a Alzheimer's Research UK, cerca de 30 por cento dos casos têm uma história familiar de FTD.
Os investigadores da UCSF afirmam que existe uma "necessidade urgente" de encontrar testes digitais fiáveis para as doenças neurodegenerativas. Estudos anteriores mostraram que os smartphones podem ser úteis na recolha de dados cognitivos, acrescentaram.
"Eventualmente, a aplicação pode ser utilizada para monitorizar os efeitos do tratamento, substituindo muitas ou a maioria das visitas presenciais aos locais dos ensaios clínicos", afirmou Adam Staffaroni, professor associado da UCSF e primeiro autor do estudo.
Teste de aplicação para smartphone 'mais sensível aos primeiros sintomas'
Os investigadores estabeleceram uma parceria com a empresa de software Datacubed Health para realizar os testes que analisam o funcionamento executivo, como o planeamento ou a organização, e o controlo dos impulsos, uma vez que a parte do cérebro que controla o funcionamento executivo pode atrofiar à medida que a doença progride.
Os dados recolhidos incluíram gravações de voz, bem como testes de marcha, equilíbrio e linguagem.
A aplicação foi testada entre 2019 e 2023 com 360 participantes, 209 mulheres e 151 homens. A idade média dos participantes era de 54 anos.
Muitos estavam geneticamente predispostos a contrair a doença, mas ainda não tinham desenvolvido sintomas.
Os cientistas descobriram que os testes efetuados com o smartphone identificavam com precisão os indivíduos com demência e eram "mais sensíveis aos primeiros sintomas" do que um teste cognitivo clínico comum.
Acredita-se que os doentes respondem melhor ao tratamento numa fase inicial, mas a DFT não é fácil de diagnosticar.
"A maior parte dos doentes com DFT são diagnosticados relativamente tarde, porque são jovens e os seus sintomas são confundidos com perturbações psiquiátricas", afirmou Adam Boxer, professor de memória e envelhecimento na UCSF e autor sénior do estudo.
"Ouvimos dizer às famílias que muitas vezes suspeitam que o seu ente querido tem FTD muito antes de um médico concordar com o diagnóstico", disse Boxer.
Nos últimos dois anos, a doença ganhou destaque público com as celebridades Bruce Willis e Wendy Williams a anunciarem que lhes tinha sido diagnosticada a doença.