"Penso que é justo dizer que a realidade geopolítica não é muito propícia a uma cooperação profunda e significativa. Existe uma guerra tecnológica cada vez mais intensa entre os EUA e a China", disse Anu Bradford, professora de Direito e Organização Internacional na Columbia Law School, uma das oradoras da Cimeira Internacional de IA da Euronews, realizada, em Bruxelas, esta semana.
"Há uma enorme corrida à supremacia tecnológica. Existe a preocupação de saber quem é a potência económica, a potência tecnológica, a potência geopolítica. E há também grandes diferenças ideológicas. Por isso, é difícil ver os EUA e a UE a chegarem a acordo com a China sobre regras particularmente significativas e substantivas em torno da IA", acrescentou a académica.
Apesar da tensão geopolítica, alguns esforços de concertação estão a dar frutos. Governos de 28 países, incluindo a China e os EUA, assinaram a Declaração de Bletchley, no final da Cimeira Global sobre Segurança da IA, orgnizada, na semana passada, pelo Reino Unido.
O diálogo já existe no setor privado
As considerações sobre ética, padrões de seguraça e cooperação internacional também estão a ser debatidas de forma construtiva no setor privado, explicou Rebecca Arcesati, analista no Instituto Mercator para Estudos sobre a China.
"Estou muito otimista no que diz respeito ao que pode ser feito entre empresas, entre engenheiros. Há empresas chinesas que já estão a desempenhar um papel muito ativo. Enquanto estas conversas continuarem, e até possam ser facilitadas pelos governos, apesar das tensões geopolíticas, penso que haverá progressos no futuro", referiu a analista.
O coordenador da legislação que está a ser preparada no Parlamento Europeu, Dragoș Tudorache, defende uma abordagem cautelosa com a China e prefere que o bloco defina antes, e de forma clara, as suas regras com base nos valores democráticos.
Temos de nos tornar o mais convergentes possível, o mais alinhados possível, e só depois ter uma conversa adequada com a China para nos certificarmos de que podemos abordar o maior número possível de riscos.
Dragoș Tudorache Eurodeputado, liberal, Roménia
"Tal como quando se trata de governação a nível mundial, quando se trata de normas agressivas a nível mundial, deve haver inevitavelmente um diálogo com a China. Mas o que eu sempre disse é que, antes de mais, temos de nos certificar de que as nossas democracias entendem a tecnologia da mesma forma e o seu papel na sociedade", explicou o eurodeputado liberal romeno.
"Temos de nos tornar o mais convergentes possível, o mais alinhados possível, e só depois ter uma conversa adequada com a China para nos certificarmos de que podemos abordar o maior número possível de riscos, digamos, maiores, incluindo os riscos geopolíticos, num quadro que também inclua a China", rematou.
Na próxima semana poderá assistir-se a outro passo importante na cooperação do Ocidente com a China já que este é um dos temas a debater no encontro do presidente dos EUA, Joe Biden, como o homólogo chinês, Xi Jinping.