Um crescente número de países europeus está a proibir o uso dos telemóveis em contexto escolar.
As principais razões são a distração constante, pelo ciberbullying e a adição tecnológica.
Nos Países Baixos, desde Janeiro de 2024, os telemóveis foram proibidos por lei nas salas de aula para os alunos do 3.º ciclo e ensino secundário.
Também já este ano, o Reino Unido passou uma nova diretriz que permite que os diretores das escolas decidam a interdição dos telemóveis durante o período escola - podendo inclusive incluir o tempo de recreio.
Segundo a Eurostat, em 2023, apenas 55% das pessoas entre os 16 e os 74 anos na União Europeia têm pelo menos capacidades de uso digital básicas.
Enquanto isto, e até 2030, a União Europeia quer que pelo menos 80% das pessoas sejam competentes digitalmente.
Num mundo cada vez mais digital, fará sentido afastar o smartphone da educação escolar?
Uma das investigadoras do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa garante que "depende sempre da postura".
Eduarda Ferreira afirma: “Se temos uma aula meramente expositiva, em que o professor vai transmitir conteúdo aos alunos, o smartphone vai perturbar a sala de aula. Se temos uma sala de aula em que há metodologias ativas, em que se envolvem os alunos na produção de conhecimento, o smartphone é um recurso valiosíssimo na produção desse conhecimento.”
Em 2023, a UNESCO lançou um estudo em que recomenda uma proibição global dos smartphones na sala de aula.
O estudo "Tecnologia na educação: uma ferramenta em que termos?" indica que, apesar da tecnologia prometer uma melhoria no processo de aprendizagem, o tempo necessário para implementar acaba por ter medidas já desatualizadas.
Telemóveis trancados em bolsas
Em Bruxelas, na Escola Bois Sauvage foi decidido em 2020 fechar os smartphones a cadeado durante o período de aulas.
A ideia de usar uma bolsa com um sistema semelhante ao anti-roubo utilizado nas lojas de roupa surgiu depois de Constantin Ullens ver o seu uso num espetáculo de comédia de Florence Foresti.
O co-diretor da escola garante: "Quando anunciámos este novo sistema, os pais reagiram muito bem. Estávamos um pouco reticentes em relação à reação dos alunos, mas eles mesmos perceberam que era necessário."
Arthur Houtart, aluno da escola, reconhece a existência de um "antes e o depois" da proibição de smartphones".
"Antes, todas as pessoas estavam agarradas ao telemóvel tanto nas aulas como no recreio durante o tempo de convívio. Por exemplo, antes eu costumava brincar no telemóvel com os meus amigos enquanto estávamos na mesma escola. Agora, conversamos, rimos e, para dizer a verdade, divertimo-nos mais agora. Antes era menos divertido.”
Liberdade pelo controlo
Já em Portugal, o uso de smartphones nas aulas significa que existe uma melhor gestão da sua utilização.
O Agrupamento de Escolas da Parede juntou-se ao projeto europeu PADDE para aplicar a tecnologia numa vertente pedagógica.
Ana Paula Alexandre, professora do Agrupamento de Escolas da Parede, explica que a escolha do smartphone em relação aos restantes aparelhos tecnológicos surgiu pela sua praticalidade.
"Normalmente os miúdos vêm sempre muito carregados com as mochilas, com muitos livros, muitos cadernos e sempre a pedir para trazer também sistematicamente o computador portátil torna-se um bocadinho complicado na nossa escola."
Nas aulas, acedem à internet da escola e constróiem posters, barras cronológicas, respondem a formulários. Tudo isto diminuindo as fichas para corrigir pós-aula para os professores, mas também obtendo feedback imediato.
Enquanto as atividades nos smartphones acontecem, Ana Paula Alexandre garante que o "silêncio é absoluto" e que a aula fica mais motivada.
A professora do Agrupamento de Escolas da Parede acrescenta: “Eles sabendo que há uma parte da aula em que podem ter acesso ao telemóvel, acaba por também dar lhes um bocadinho mais à vontade no sentido de: 'Eu guardo agora o telemóvel, mas eu sei que eu vou estar a utilizar o telemóvel para o que é necessário dentro da sala de aula'.”
A falta de consenso
Apesar de não existir um consenso a nível europeu, os smartphones não serão os únicos aparelhos tecnológicos que as escolas terão de legislar.
Segundo o estudo de 2023 da UNESCO, a literacia digital cresce quanto mais formação tiver o utilizador.
A investigadora Eduarda Ferreira afirma que "as competências digitais dos jovens não são assim tantas" e que compete à escola dar ferramentas para utilizar as ferramentas digitais de forma crítica.
“Proibir implica que a escola se demite claramente do seu papel de preparar os jovens para a sociedade, em que os telemóveis estão presentes em todos os momentos da nossa vida e que nós temos que aprender a lidar com estes aparelhos cada vez mais. Não é só o smartphone e os smartwatches? Isto não vai parar. Aprender a lidar com esta omnipresença do digital na nossa vida, quando se desligar, quando ligar, o que fazer é uma função também da escola nestes tempos, sem dúvida.”