Tudo indica que o ano de 2023 será de fraco crescimento económico e de normalização da taxa de inflação, em resultado das políticas monetárias restritivas dos Bancos Centrais, ao subir rapidamente as taxas de juro e ao reduzir abruptamente a liquidez nas economias (figura 1).
A conjugação destes três factores – menor crescimento e pico da inflação e das taxas de juro –, na nossa opinião, traduzir-se-ão na outperformance das Obrigações, em particular das com melhores ratings de crédito (Investment Grade, IG), relativamente às Acções, cujas avaliações permanecem vulneráveis à revisão em baixa das estimativas de crescimento dos resultados das empresas, num contexto macro difícil.
Com efeito, na nossa opinião, as Acções descontam um cenário de softlanding macroeconómico durante 2023, com estimativas de crescimento de resultados, porventura, demasiado optimistas. Pelo contrário, as obrigações de Dívida Privada antecipam um cenário bem mais pessimista, traduzido pelas taxas de default (níveis de incumprimento) actualmente implícitas nos respectivos spreads de crédito exigidos pelo mercado, após a forte subida verificada ao longo de 2022 (figura 2).
No segmento de Investment Grade os actuais spreads médios descontam taxas de default, cumulativas a 5 anos, de 6,6% e 6,1%, na Europa e Estados Unidos, respectivamente. Estes valores comparam com taxas médias históricas de 0,4% e 1,0%, respectivamente. Por sua vez, no segmento de High Yield, os defaults descontados ascendem a cerca de 30%, o que compara com uma média histórica de 12,8% e 16,5%, respectivamente.
Mesmo num cenário de abrandamento económico, como será possivelmente o caso este ano, os actuais spreads de crédito (figura 3), na nossa opinião, representam bons níveis para adicionar ou reforçar a exposição a Dívida Privada, em especial no segmento de Investment Grade (IG).
Os níveis no High Yield (HY) são igualmente interessantes mas, considerando a incerteza macroeconómica e a maior correlação com os mercados accionistas, o binómio risco-retorno aconselha a maior prudência.
Por outro lado, a Dívida Pública, cujas yields subiram igualmente de forma acentuada em 2022 (figura 4), volta a ser interessante enquanto instrumento com rendibilidade e, sobretudo, enquanto instrumento de diversificação, caso a conjuntura macroeconómica se venha a revelar mais severa do que o esperado.
De facto, nos Estados Unidos, os Treasuries 2 e 10 anos encerram o ano com yields de 4,3% e 3,6%, mais 358 e 210 bp face ao início do ano, respectivamente. Na Zona Euro, as yields dos Bunds alemães a 2 e 10 anos subiram 275 e 211 bp, para os actuais 2,1% e 1,9%.