* Recuperação investimento 4to tri suporta procura interna
* Procura externa líq. com contributo negativo, importações sobem
* Governo prevê crescimento 1,5 pct 2017, défice 1,6 pct PIB (Acrescenta citações de analistas)
Por Sergio Goncalves e Patricia Vicente Rua
LISBOA, 14 Fev (Reuters) - Portugal cresceu em cadeia 0,6 pct no quarto trimestre de 2016, mais do que o previsto, impulsionado pela recuperação do investimento, levando o PIB a suplantar a meta do Governo ao crescer 1,4 pct no ano passado e abrindo boas perspectivas para 2017, segundo economistas.
A média de uma Poll de economistas consultados pela Reuters apontava para um crescimento em cadeia de 0,5 pct, depois do PIB em cadeia - ou seja comparando com o trimestre anterior - já ter tido um forte crescimento de 0,8 pct no terceiro trimestre.
"É um bom ponto de partida para o ano de 2017, embora Portugal continue a crescer a um ritmo insuficiente tendo em conta o seu elevado 'stock' da dívida e o seu custo de financiamento", disse Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros, no Porto.
Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI, em Lisboa, realçou que os números são melhores do que esperava "em toda a linha, isto é em cadeia, em termos homólogos e também no conjunto ano, onde a sua previsão era de 1,3 pct".
O crescimento em cadeia de Portugal voltou a superar os 0,4 pct do conjunto da zona euro.
INVESTIMENTO RECUPERA
Segundo a estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística (INE), no quarto trimestre de 2016, no crescimento em cadeia, o "contributo da procura interna para a variação em cadeia do Produto Interno Bruto (PIB) passou de negativo no terceiro trimestre para positivo, traduzindo, principalmente, a evolução do investimento".
O investimento privado tem sido um dos 'calcanhares de Aquiles' da economia portuguesa desde há vários anos.
O INE adiantou que, "em sentido contrário, a procura externa líquida passou a registar um contributo negativo, observando-se um forte aumento das importações totais".
Entre Outubro e Dezembro de 2016, o PIB cresceu 1,9 pct face ao mesmo período de 2015, contra o crescimento de 1,6 pct nos três meses anteriores, segundo o INE.
No cômputo do ano de 2016, o produto português aumentou 1,4 pct contra 1,6 pct em 2015. O Governo previa que o PIB tivesse crescido 1,2 pct em 2016 e estima que cresça 1,5 pct em 2017, embora a Comissão Europeia (CE) tenha ontem estimado que crescerá 1,6 pct este ano.
O crescimento económico é essencial para o Governo voltar a descer o défice público para 1,6 pct do PIB em 2017. O Executivo tem reiterado que o défice em 2016 desceu para um valor não superior a 2,3 pct do PIB, abaixo dos 2,5 pct impostos por Bruxelas, permitindo cumprir a regra do Pacto de não exceder os 3 pct, pela primeira vez em 42 anos de Democracia.
CONFIANÇA
"O número é positivo e penso que beneficia bastante do aumento da confiança dos agentes económicos nos últimos meses e da diminuição do desemprego em Portugal, aliado ao crescimento na Europa", afirmou Filipe Garcia.
"Não me parece haver consequências negativas na confiança resultantes do Brexit e das eleições norte-americanas".
Teresa Gil Pinheiro referiu que "a coisa mais positiva destes números é a recuperação do investimento, apesar de que no conjunto ano deva ter sido ainda negativo", enquanto "o menos positivo é o facto das exportações terem desacelerado".
O INE referiu que "a aceleração homóloga do PIB resultou do aumento do contributo da procura interna, observando-se uma recuperação do investimento e um crescimento mais intenso do consumo privado".
Adiantou que "o contributo da procura externa líquida foi negativo, contrariamente ao observado no trimestre anterior, reflectindo a aceleração mais acentuada das Importações de Bens e Serviços em volume que a das Exportações de Bens e Serviços".
A economista do BPI, que prevê que a economia cresça 1,5 pct este ano, afirmou que, "para 2017 seria muito bom se o investimento consolidasse ao longo do ano pois ajudaria as exportações".
A 'yield' das obrigações do tesouro de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB desceu dois pontos base para 3,99 pct, ainda a beneficiar de algum apetite pelo risco dos investidores, estimulado pelo tom mais suave de Donald Trump no encontro com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, bem como a aposta que a Grécia chegará a acordo com os credores oficiais. que o mercado continua a ver o empenho que a Alemanha está a ter em defender a Grécia e mantê-la na zona euro e isso também beneficia a percepção de risco da dívida soberana portuguesa", afirmou Filipe Garcia.
(Escrito por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)