O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, mostrou-se combativo depois de se ter reunido hoje com os responsáveis máximos da União Europeia (UE) para discutir a decisão da Kiev de pôr termo ao transporte de gás russo através de território ucraniano, reiterando os avisos de "medidas recíprocas" contra o seu vizinho devastado pela guerra.
Estas medidas poderiam incluir a limitação no fornecimento de eletricidade e na ajuda aos refugiados ucranianos, disse Fico, dando também a entender que o seu governo poderia estar preparado para bloquear o apoio ao nível da UE.
"Sim, alguns poderão dizer que é cruel o que estou a dizer agora, mas também é cruel o que o [presidente ucraniano Volodymyr] Zelenskyy nos está a fazer e o que está a fazer à UE", disse Fico aos jornalistas em Bruxelas. "É prejudicial. É cruel".
Fico afirma que a recusa de Kiev em celebrar um novo acordo de fornecimento de gás com o Kremlin, quando o contrato de cinco anos entre a russa Gazprom e a ucraniana Naftogaz expirou a 31 de dezembro, fez subir os preços do gás e vai custar à Eslováquia 500 milhões de euros por ano em taxas de trânsito perdidas para o fornecimento de gás a oeste da UE.
Fico, que há muito critica abertamente a resposta da UE à guerra não declarada da Rússia contra a Ucrânia, intensificou a pressão durante o Ano Novo ao ameaçar reduzir o fornecimento de eletricidade e a ajuda à Ucrânia, a menos que Kiev concordasse com a manutenção do acordo de transporte de gás russo através do seu território.
Numa publicação nas redes sociais, a 2 de janeiro, afirmou que as ações da Ucrânia equivaliam a uma "sabotagem" da economia da Eslováquia.
A Comissão Europeia insiste que a UE e os seus Estados-Membros tiveram tempo suficiente para se prepararem, e repetiu esta semana que não vê qualquer ameaça à segurança energética da UE.
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O primeiro-ministro eslovaco salientou o facto de Bruxelas não ter sancionado o gás russo e de continuarem a seguir para leste carregamentos substanciais de GNL, apesar de os Estados Unidos terem aumentado as exportações para a UE para compensar parcialmente a enorme queda nos fluxos de gás do seu antigo maior fornecedor.
Depois de se ter reunido com Dan Jørgensen, Comissário europeu da Energia, Fico disse que espera que a UE resolva o problema dos prejuízos que a situação do abastecimento de gás está a causar ao seu país e à competitividade do bloco, especialmente em relação aos Estados Unidos e à China. Fico deu a entender que Bratislava poderá estar preparada para exercer o seu direito de veto nas decisões da UE relativas à guerra em curso, como fez a Hungria.
Apesar da retórica furiosa de Fico após a reunião, o chefe do governo eslovaco e Jørgensen emitiram uma declaração conjunta falando de uma "discussão boa e aberta sobre a situação energética e as implicações mais alargadas" do fim dos fluxos de gás russo através da Ucrânia.
"Neste contexto, concordámos em criar um grupo de trabalho de alto nível para acompanhar e identificar opções com base numa avaliação conjunta da situação e ver como a UE pode ajudar", afirmaram.
O primeiro-ministro eslovaco, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato em maio passado, atacou os seus opositores políticos no seu país durante a sua longa conferência de imprensa, claramente dirigida tanto ao seu público interno como a Kiev e Bruxelas.
Os seus últimos comentários surgem pouco mais de duas semanas depois de uma viagem pré-natalícia, amplamente criticada, para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo.