A 1 de Janeiro de 2023, a Croácia tornou-se no vigésimo país europeu a aderir à zona euro.
Com a moeda única, o país espera tornar a economia mais forte e mais estável, e melhorar o nível de vida dos habitantes. De acordo com o Eurobarómetro, 55% dos croatas são a favor do euro, mas, mais de 80% temem um aumento dos preços.
"As pessoas não têm muito dinheiro para gastar, a comida é muito cara, o aquecimento, a eletricidade também é cara, por isso é muito difícil viver. A Croácia é um país pequeno, as pensões não são elevadas, pode imaginar como as pessoas vivem", sublinhou Ana Knežević, presidente da Associação Croata de Defesa do Consumidor.
Ana Knežević, presidente da Associação Croata de Defesa do Consumidor euronews
O período de transição entre o cuna e o euro
A transição da antiga moeda, o cuna, para a moeda única segue um conjunto de regras. A partir de 1 de janeiro de 2023, todos os produtos e serviços na Croácia são comprados e vendidos em euros. A taxa de conversão do antigo kuna para o novo euro é fixa: 1 euro equivale a 7,53 cunas. As moedas e notas de cuna podem ser trocadas sem comissão nos bancos croatas. Os preços devem estar nas duas moedas até ao final de 2023. O objetivo é tornar a transição mais transparente. Há receios de que alguns bens mais baratos possam ficar mais caros. As associações de consumidores deverão monitorizar os preços.
Setor do turismo espera tirar partido do euro
A adesão ao euro e a entrada no espaço Schengen podem ser vantajosas para vários setores como o turismo, que representa 24% do PIB da Croácia e a indústria transformadora, um setor exportador importante para economia croata.
O grupo Končar opera nos domínios da energia, das infra-estruturas e dos veículos ferroviários elétricos. A empresa exporta mais de 60% da produção, maioritariamente para países da zona euro.
"Se olharmos para o passado, para os últimos 21 anos, quando associámos a nossa moeda ao euro, não podemos dizer que a mudança será enorme. Mas, a mudança vai facilitar os negócios porque os nossos clientes vão compreender mais facilmente a nossa oferta" considerou Gordan Kolak, presidente da Končar
Em 2020, o euro foi a moeda usada em mais de 70% das exportações, contra 16% em dólares americanos.
“Quando se fala de produtividade, de modernização da produção, de digitalização, todas estas áreas são muito mais importantes para nós do que ter o euro, como moeda", acrescentou o responsável.
Boris Vujčić, Governador do Banco Central da Croácia. euronews
Banco Central da Croácia: o euro "trará mais resiliência à economia"
A adoção do euro pela Croácia ocorre dez anos depois da adesão do país à União Europeia. O PIB da Croácia cresceu 6% em 2022, mas prevê-se que cresça apenas 1% em 2023, em parte devido à inflação.
euronews: "Quais são as vantagens do euro para a Croácia?"
Boris Vujčić, governador do Banco Central da Croácia: "É algo que trará mais resiliência à economia. Tornará a economia croata mais atrativa para o investimento direto estrangeiro. Os custos das transações serão mais baixos. Também é importante porque somos um país turístico. 70% dos nossos turistas são provenientes dos países da zona euro. Por isso, em muitos aspetos, o euro é uma coisa boa para a Croácia".
euronews: "Face ao aumento da inflação na zona euro, considera que é uma boa altura para adotar o euro?"
Boris Vujčić: “Sem dúvida. E se pudéssemos ter trocado de moeda mais cedo, teria sido melhor. Para uma economia pequena e aberta como a Croácia, é particularmente importante estar na zona euro durante os tempos da crise. Alguns dos nossos vizinhos que são membros da União Europeia e não da zona euro foram alvo de bastante pressão no mercado de divisas, este ano, após a agressão à Ucrânia. Se olharmos para o custo dos empréstimos, estes custos situam-se agora entre os 8% e os 11% para as empresas e entre entre 6 a 9% para os agregados familiares. Na Croácia, não houve qualquer pressão no mercado de divisas, nem tivemos de reagir muito ao aumento das taxas de juro. Neste momento, já vemos os benefícios do euro. Os mercados já se tinham ajustado porque sabiam que iríamos entrar na zona euro no início deste ano".
euronews: "Com o euro, a Croácia abdica da capacidade de fixar as taxas de juro? O que pensa sobre isso?"
Boris Vujčić: "A âncora da nossa política monetária foi a indexação da taxa de câmbio ao euro, e foi o que se passou nos últimos 30 anos. Primeiro ao marco alemão e depois ao euro. Quando se fixa a taxa de câmbio ao euro, e se tem um fluxo livre de capital, não é possível ter uma política de taxas de juro independente. Trata-se de perder algo que já não tínhamos".
euronews: "Quais são os desafios quando há grandes quantidades de dinheiro a entrar na economia croata, nomeadamente, no mercado imobiliário?"
Boris Vujčić: "Não observámos um sobreaquecimento da economia. Como disse com razão, o mercado imobiliário está quente, os preços estão a subir. Penso que no próximo ano, com a subida das taxas de juro, vamos assistir ao arrefecimento do setor imobiliário. A única coisa que não vai mudar é a procura externa. Espera-se que ela venha a aumentar. Cerca de 20% das compras imobiliárias são oriundas do estrangeiro, vamos tornar-nos ainda mais atrativos".
euronews: "Para terminar, quais são os desafios para o futuro?"
Boris Vujčić: "Penso que não vamos resolver por magia os nossos problemas económicos estruturais. E temos agora de nos concentrar em fazer reformas estruturais de que precisamos, com a ajuda de um ambiente económico mais favorável criado pela entrada na zona euro e no espaço Schengen".