A Comissão Europeia está a propor o euro digital, uma versão virtual da moeda que será emitida pelo Banco Central Europeu e que será utilizada gratuitamente em conjunto com o dinheiro na zona euro.
O pagamento de serviços ou bens com dinheiro em vez de cartões de débito ou de crédito foi durante muito tempo considerado um processo mais simples, devido à maior rapidez das transações, à sua fiabilidade e aos menores custos associados.
No entanto, o primeiro estudo realizado pelo Banco Central Europeu sobre a utilização de numerário nas empresas em 2021 mostrou que as empresas preferem que os consumidores paguem com cartões (incluindo sem contacto) em vez de dinheiro (53% contra 23%).
Em contrapartida, o segundo estudo sobre as atitudes de pagamento dos consumidores na zona euro(SPACE) revelou que os europeus preferiram pagar com numerário em 2022, em vez de com cartão (59% a 34%, embora tenha havido uma diminuição notável de 13% na frequência dos pagamentos em numerário a partir de 2021).
Como é que um euro digital irá beneficiar tanto os empresários como os consumidores da zona euro? Em última análise, dará aos ctuais consumidores uma escolha e garantirá a sobrevivência do numerário no futuro.
Existe alguma diferença entre moedas digitais e criptomoedas?
O euro digital será controlado pelo Banco Central Europeu (BCE). Ao contrário das criptomoedas, que são descentralizadas, o BCE fixará o valor da moeda, assegurará a sua estabilidade e evitará o seu colapso.
Essencialmente, o euro digital funcionará como uma versão digital das notas e moedas de euro.
Terá exatamente o mesmo valor, mesmo além-fronteiras, e os cidadãos europeus não precisarão de uma conta bancária para o armazenar, sendo a moeda guardada numa carteira digital.
Quando estiver totalmente implantado, os comerciantes terão de aceitar o euro digital, tal como fazem atualmente com o numerário.
Quais são as vantagens de utilizar o euro digital?
O euro digital será como o numerário, mas em formato digital, e vai pertencer ao Banco Central. Atualmente, os pagamentos sem contacto ou sem numerário extraem euros de uma conta privada ou de uma empresa para pagar serviços ou bens, mas estas unidades não são propriedade do BCE.
Os bancos centrais receiam estar a perder a estabilidade que o numerário proporcionava aos seus sistemas financeiros, mas um equivalente digital do numerário ajudaria a apoiar a soberania e a contingência desse sistema. Embora o numerário tenha sido o método de pagamento preferido no ano passado, o valor dos pagamentos em euros foi inferior ao dos pagamentos com cartão (42% contra 46%).
De acordo com os economistas, os pagamentos do dia a dia serão mais fáceis com o euro digital.
Se esta moeda digital for propriedade do BCE, os consumidores terão acesso ilimitado aos fundos?
Para começar, o BCE espera emitir pequenas quantias para os consumidores. Aqueles que utilizarem a moeda digital não poderão transferir mais de 3 000 ou 4 000 euros para as suas carteiras digitais, mas o BCE ainda não definiu os pormenores técnicos exatos dos pagamentos e a dimensão dos mesmos.
Mas e a privacidade, a segurança e a facilidade de utilização?
Uma das principais preocupações dos consumidores é a privacidade, uma preocupação que o BCE reconhece. O banco central afirma que os utilizadores poderão efetuar pequenos pagamentos de forma anónima.
Atualmente, cerca de 120 bancos centrais de todo o mundo estão a trabalhar na criação de versões digitais da sua própria moeda. O Banco do Japão, o Banco Popular da China (PBOC) e o Deutsche Bundesbank da Alemanha já possuem moedas digitais.
A Comissão Europeia está atualmente a tentar estabelecer o quadro jurídico do euro digital. Espera-se que o BCE divulgue pormenores sobre a conceção e a implementação da moeda em setembro de 2023.