(Texto atualizado com mais informações)
Por José de Castro
SÃO PAULO, 26 Abr (Reuters) - O dólar começou a semana em queda frente ao real, fechando no menor patamar em dois meses e abaixo de 5,45 reais, com as operações domésticas acompanhando o rali de moedas de commodities no exterior em meio a esperanças de retomada da economia mundial.
Aqui, o mercado também passou a colocar nos preços expectativas de avanço na agenda de reformas, superado o imbróglio orçamentário.
Nesta segunda, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse em sua conta no Twitter que a Casa e o Senado têm o compromisso de votar ainda neste ano as reformas tributária e administrativa --esta podendo andar mais rapidamente e ter sua comissão especial instalada entre os dias 10 e 14 de maio. estou superotimista, mas estou otimista", disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex. "A gente com o tempo percebeu que o Congresso é reformista. A pauta mudou, a gente está agora numa pauta mais propositiva", acrescentou, avaliando que a CPI da Covid-19 no Senado não tende a mexer com os mercados.
A discussão sobre reformas havia ficado de lado nos últimos tempos em meio ao agravamento da crise sanitária e a debates sobre mais despesas para controlar a pandemia, os quais levaram no começo de março à aprovação de uma PEC Emergencial que causou no mercado ruído posteriormente agudizado pelo impasse do Orçamento.
Mas a solução da crise orçamentária alcançada em abril voltou a abrir espaço para queda do dólar --a moeda perde 5,54% desde a máxima recente de 29 de março (5,7681 reais). E, segundo Weigt, há mais "gordura para queimar".
"O real está bastante desvalorizado, e não me surpreenderia com a moeda (o dólar) chegando a 5,30 reais, 5,20 reais", afirmou. "Se a gente realmente partir para essa agenda (de reformas), se aprovarmos a administrativa, a gente vai para os 5 reais."
A taxa de 5 reais implica queda nominal de 8,24% ante o patamar atual. Pela pesquisa Focus, o dólar fecha este ano em 5,40 reais. segunda-feira, o dólar à vista BRBY caiu 0,87%, a 5,4488 reais na venda --menor patamar de encerramento desde 24 de fevereiro (5,4219 reais).
A moeda operou em queda por toda esta sessão, variando entre 5,4912 reais (-0,10%) e 5,4389 reais (-1,05%).
O dólar caiu em oito dos últimos nove pregões.
O recente alívio nos ativos brasileiros, após o fim do entrevero do Orçamento, abriu a porta para visões menos negativas sobre o real por parte de estrangeiros. Ainda assim, as análises trazem uma boa dose de desconfiança --inclusive com as reformas.
Embora não sustente aposta direcional a favor da moeda brasileira, o Morgan Stanley (NYSE:MS) vê no excesso de volatilidade da taxa de câmbio no curto prazo uma oportunidade tática, tendo como pano de fundo ambiente benigno em termos de risco no qual o dólar pode estar chegando a seu piso no mundo.
"A volatilidade de curto prazo do real continua a operar com prêmio vis-à-vis seus pares e vencimentos mais longos, o que torna atrativa a exposição a uma curva mais inclinada, já que esperamos que o segundo semestre de 2021 seja mais desafiador conforme o calendário político complica o cenário para reformas estruturais", disseram.
A volatilidade do par dólar/real para três meses BRL3MO= estava em torno de 17,5% ao ano, a segunda mais alta dentre os principais pares da divisa brasileira. A volatilidade da lira turca TRY3MO= é a maior: 20,7%. (Edição de Isabel Versiani)