Por Sergio Goncalves
LISBOA, 24 Mar (Reuters) - As gestoras de activos e os 'hedge funds' ficaram com 90 pct da emissão de 500 milhões de euros (ME) de valores mobiliários para reforçar o capital da estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD), anunciou a CGD.
No âmbito de uma operação de recapitalização em várias fase no montante total de 4.900 ME, a CGD concretizou ontem aquela emissão de bonds Additional Tier 1 (AT1) no montante de 500 ME, junto de mais de 160 investidores institucionais.
Adiantou que, "na sequência do roadshow concluído em 22 de março, a procura dos investidores pelos títulos revelou-se elevada e consistente, tendo o livro de ordens alcançado um montante global superior a 2.000 ME, mais de 4 vezes o montante da emissão".
Salientou que, "dos investidores contactados pela CGD na fase do roadshow, cerca de dois-terços emitiram ordens de compra".
"O montante final alocado aos investidores institucionais nesta emissão da CGD foi distribuído por gestoras de activos (49 pct), hedge funds (41 pct) e seguradoras (5 pct)", referiu a CGD em comunicado.
Acrescentou que a origem geográfica destes foi diversa, "com destaque para o Reino Unido (59 pct), Portugal (14 pct), Suíça (8 pct), Espanha (6 pct) e França (5 pct)".
A taxa de juro do cupão fixou-se em 10,75 pct, "claramente abaixo do intervalo inicial de preço entre 11 pct e 11,5 pct, reflectindo a referida procura o conjunto de riscos intrínsecos deste tipo de instrumentos, a ausência de emissões similares de emitentes nacionais, o facto da CGD não ser um banco cotado em Bolsa, bem como as recentes comunicações de agentes de mercado".
"Esta transação permite concluir a segunda fase do Plano de Recapitalização da CGD, num montante total de 3.000 ME, no decorrer deste mês", realçou a CGD.
Relativamente a estes valores mobiliários AT1, ocorrerá um evento de desencadeamento quando o rácio de fundos próprios principais de nível 1 (CET1) ficar abaixo de 5,125 pct.
Isto significa que, caso o rácio consolidado ou individual da CGD desça abaixo daquele montante, o valor nominal dos Valores Mobiliários será reduzido de forma a repor o referido rácio de fundos próprios principais de nível 1.
Esta redução pode ser temporária, uma vez que se a CGD voltar a ter lucros, poderá repor o valor nominal dos Valores Mobiliários desde que, ao fazê-lo, o rácio de fundos próprios principais de nível 1 não desça abaixo de 5,125 pct.
Mas em nenhuma circunstância os Valores Mobiliários se poderão converter em ações da CGD.
A CGD teve um prejuízo de 1.859 ME em 2016 contra 172 ME em 2015, após fortes imparidades para limpar o balanço antes do crucial aumento de capital, anunciou o banco, cujo plano acordado com Bruxelas prevê o regresso à rentabilidade em 2018.
As provisões e imparidades ascenderam a 3.017 ME, seguindo os princípios de avaliação de um novo investidor privado significativo conforme acordado com a europeia DGComp.
Em termos de almofadas de capital, os rácios proforma, incluindo as duas fases do plano de recapitalização cumpriram os requisitos de capital definidos pelo regulador.
O rácio phased-in fixou-se em 12 pct (CET1) e o Tier 1 nos 13 pct. A CGD reforçou a cobertura por imparidades do crédito vencido há mais de 90 dias para 123,9 pct, de 102,2 pct em 2015.
(Por Sérgio Gonçalves)