* Grupo confiante Trump vai promover ambiente pró-negócios EUA
* Depreciação libra facilita expansão Reino Unido, mas há riscos
* América do Sul em consolidação, Brasil desafiante (Actualiza com estratégia e visão sobre Brexit, Trump)
Por Daniel Alvarenga
LISBOA, 6 Dez (Reuters) - O Grupo Pestana, líder da hotelaria em Portugal, prevê atingir resultados recorde em 2016 e vai acelerar o investimento para 200 milhões de euros (ME) até 2020, para abrir 20 hotéis nos próximos cinco anos, tendo como prioridade os mercados desenvolvidos da Europa e dos Estados Unidos.
"É o plano de expansão mais ambicioso de sempre: 200 ME até 2020", disse José Roquette, administrador do Grupo Pestana, em conferência de imprensa.
Em média, nos últimos anos o Grupo Pestana tem investido entre 25 e 30 ME por ano, tendo o investimento sido de 30 ME em 2015. O Grupo Pestana prevê terminar 2016 com 11.302 quartos, de 10.636 em 2015.
O lucro antes de juros, impostos, depreciações, amortizações e rendas (EBITDAR) deverá aumentar 21 pct para 122 ME, o melhor resultado de sempre. Em termos de rentabilidade, o Grupo Pestana prevê passar de um rácio EBITDAR sobre vendas de 29 pct em 2015 para 33 pct este ano.
"É um momento único na evolução dos negócios. Conjugam-se resultados operacionais excepcionais com um momento de crescimento impar", disse José Roquette.
O Grupo vai investir 25 ME num novo hotel em Manhattan, cuja construção começará em Janeiro e deverá estar pronto cerca de um ano e meio depois, praticamente ao mesmo tempo que um hotel CR7 também em fase de projecto em Nova Iorque.
"O que nos domina e empolga, e no qual estamos a concentrar todas as nossas energias é na expansão europeia e no nosso 'american dream'", afirmou o administrador do Grupo Pestana.
"Vamos abrir um segundo projecto em Manhattan, tínhamos já um com o Ronaldo e agora temos outro. E temos ainda o projecto de Newark. Diria que esta é a grande novidade, vem abrir portas de um mercado com potencial de crescimento tremendo. Entrar em nova Iorque foi extremamente difícil".
A nova fase de expansão aponta para cerca de 20 novos hotéis em cinco anos, adicionando 3.000 novos quartos.
A área que atravessa um momento "menos bom", segundo o administrador, é o Brasil.
"Acreditamos que o Brasil ainda vai demorar uns anos a recuperar. Não vai ser um caminho muito fácil. A América do Sul é a área que temos mais em consolidação e a América do Norte e Europa mais em expansão".
ATENÇÃO BREXIT E TRUMP
O Grupo, que tem os Estados Unidos e Reino Unido como apostas centrais, está ainda a assimilar as implicações da vitória de Donald Trump nas Presidenciais norte-americanas e o voto a favor do Brexit, mas está globalmente positivo quanto a estes mercados.
"Estes eventos exigem um pouco de tempo para se perceberem melhor. Dizer que o Brexit não tem efeito seria inconsciência", disse José Roquette.
"Portugal, que beneficia de um peso muito grande do turismo inglês não pode achar que nada se vai passar aí. É importante não dramatizar em excesso, há uma relação de fidelização muito grande do mercado inglês com Portugal".
Referiu que o Reino Unido já atravessou momentos cambiais distintos no passado. "A desvalorização da libra a médio prazo vai fazer com que o mercado inglês tenha menos poder de compra, mas Portugal sempre teve uma relação de qualidade-preço muito boa, portanto não será certamente dramático ou uma tragédia para o mercado português".
Lembrou que o grupo está a negociar um segundo passo em Inglaterra, para abrir uma unidade, desta vez fora de Londres.
"Nota-se alguma ansiedade e dificuldade de tomar decisões sobre esse tema da parte dos fundos de investimento", disse o administrador do Pestana, referindo-se aos potenciais parceiros no projecto.
"Do nosso lado, a libra mais barata obviamente facilitaria a entrada no mercado. Ao mesmo tempo, se pensarmos que o Brexit acontece nos moldes em que se diz pode acontecer, há ameaças sobre por exemplo o turismo de negócios no Reino Unido: é preciso ter cuidado".
Nos Estados Unidos, José Roquette acredita que Trump vai promover um ambiente pró-negócio.
"Assinámos o contrato (do novo hotel) de Manhattan exactamente no dia a seguir às eleições e podíamos não o ter assinado. Tentamos sempre pensar no longo prazo. Não vejo que a política económica do Governo Trump possa vir a prejudicar os nossos investimentos nos Estados Unidos".
FINANCIAMENTO ACESSÍVEL
Em termos de financiamento, o administrador referiu que o Grupo Pestana está a ser premiado pelo mercado pela disciplina operacional e prudência.
"Significa que nos conseguimos financiar a spreads muito competitivos e provavelmente ao nível a que as grandes empresas portuguesas conseguem obter no mercado", disse.
Segundo dados ThomsonReuters, o Grupo Pestana tem cerca de 108 ME em obrigações 'outstanding', 60 ME das quais se vencem em 2020.
Explicou que durante a crise de dívida soberana de Portugal, o Grupo tinha basicamente relações com bancos portugueses e espanhóis e apesar de estar bem patrimonialmente, estas instituições estavam em dificuldades, o que prejudicou a operação.
"Houve um trabalho muito grande de reorganização e estruturação. Agora, sempre que possível trabalhamos com os bancos locais onde estamos".
"Temos também a vertente de parcerias com fundos de investimento imobiliários. É um complemento importantíssimo da capacidade de financiamento que o fundo já tem hoje".
Sem especificar quem são os investidores, José Roquette disse que o Grupo "não tem nenhuma relação privilegiada com nenhum fundo. Temos muitos fundos portugueses com quem temos já relações e temos alguns fundos alemães e ingleses com quem estamos a trabalhar".
(Por Daniel Alvarenga; Editado por Sérgio Gonçalves)