Por Sergio Goncalves
LISBOA, 5 Dez (Reuters) - O processo de transição da liderança da estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a correr muito bem e o CEO designado Paulo Macedo é tão competente quanto o demissionário, o que reforça a confiança no futuro da CGD, que tem em curso uma crucial recapitalização, disse o Presidente da República.
A 2 de Dezembro, o Governo anunciou que escolheu Paulo Macedo, ex-vice presidente executivo do Millennium bcp BCP.LS e ex-ministro da Saúde, para assumir o cargo de Chief Executive Officer (CEO) da CGD, o maior banco de Portugal, substituindo o actual CEO demissionário António Domingues.
"Este processo de transição CGD correu muito bem, está a correr muito bem e portanto, tenho uma confiança reforçada na Caixa e no futuro da Caixa", disse o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.
Perguntado sobre a escolha de Paulo Macedo, o Presidente foi perentório: "eu digo que é tão competente como a primeira (...) e não levanta discussões (sobre entrega de declaração de rendimentos e património)".
"Ainda tem uma vantagem adicional: os dois partidos da oposição não esconderam os seus elogios rasgados ao (designado) presidente executivo e portanto, eu diria que esta transição foi suave e muito bem aceite pelos mercados, continuando a gestão anterior a ser assegurada até ao momento de entrada em funções da nova Administração".
"Reforça a confiança na Caixa e sobretudo aquilo que os portugueses querem é que, com o Ano Novo, se entre com o 'pé direito' no sentido de aplicar o plano de reestruturação e o plano de capitalização", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
À margem de uma conferência, Paulo Macedo frisou que está concentrado na construção da sua equipa, que não é um processo simples.
"É um processo que é complexo, há o objetivo de constituir uma equipa e estamos a fazer isso", referiu aos jornalistas.
"Até lá, não vale a pena estar a alimentar nomes ou curiosidades, etc, porque a Caixa precisa de desenvolver o seu trabalho e de pôr em prática o plano que está aprovado. E é nisso que nos devemos concentrar", acrescentou.
Rui Vilar, ex-ministro da Economia, ex-vice-governador do Banco de Portugal e ex-presidente do Conselho de Administração da CGD, vai assumir o cargo de 'chairman' da CGD.
POLÉMICA
Em 27 de Novembro, o Presidente do Conselho de Administração (CA) e CEO da CGD apresentou a sua demissão, com efeito a partir de 1 de Janeiro, numa altura em que o banco estatal tem curso uma crucial operação de recapitalização de até 5.160 milhões de euros (ME).
Como consequência, a agência DBRS colocou o 'rating' da CGD sob revisão com implicações negativas, sinalizando que pode atirá-lo para 'lixo', dados os crescentes riscos de governação, atraso na recapitalização e a dificuldade em melhorar a rentabilidade e a qualidade dos activos.
António Domingues, um ex-executivo do BPI BBPI.LS que teve o 'OK' do Banco Central Europeu (BCE) para liderar o maior banco de Portugal em meados de Agosto, acumulava as funções de 'chairman' e de CEO vai permanecer no cargo até ao fim de Dezembro.
Esta demissão seguiu-se a largas semanas de polémica com grande impacto político e mediático sobre a obrigatoriedade dos gestores públicos da CGD terem de entregar as suas declarações de rendimento e património ao Tribunal Constitucional (TC).
RECAPITALIZA
Em 25 de Agosto, a Comissária Europeia da Concorrência chegou a um acordo de princípio com Portugal para uma injecção de até 5.160 milhões de euros (ME) no capital da CGD, incluindo uma tranche directa de fundos do Estado de 2.700 ME e 1.000 ME 'levantados' através de obrigações subordinadas.
Entretanto, está a ser feita uma auditoria para apurar as imparidades da CGD e em consequência as reais necessidades de capital deste banco, em estreito contacto com o supervisor Banco de Portugal, BCE e Comissão Europeia.
O Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Ricardo Mourinho Félix, disse em 23 de Novembro que a emissão de 1.000 ME de obrigações subordinadas recebeu "respostas positivas" e a injecção dos fundos públicos no capital ocorrerá no primeiro trimestre de 2017.
A emissão das obrigações vai decorrer em dois períodos: 500 ME no momento da capitalização pública e 500 ME até 18 meses depois.
Os rácios Common Equity Tier 1 (CET 1) Phased-in e Fully Implemented calculados de acordo com as regras da CRD IV/CRR, alcançaram em setembro de 2016 os valores de 10,2 pct e 9,3 pct, respetivamente.
A CGD teve um prejuízo de 189,3 ME nos nove meses de 2016, face ao lucro de 3,4 ME há um ano atrás, penalizado por perdas em operações financeiras e uma redução das comissões, apesar da subida da margem financeira e do corte de custos.
(Editado por Patrícia Vicente Rua)