Por Sergio Goncalves
LISBOA, 2 Set (Reuters) - O Novo Banco, que emergiu dos escombros do resgatado Banco Espírito Santo em 2014, nunca fez qualquer venda de activos não produtivos ao seu accionista de controlo, a private equity norte-americana Lone Star, disse o CEO do banco António Ramalho.
O banco, que é detido em 75% pela Lone Star desde Outubro de 2017 e em 25% pelo Fundo de Resolução, tem estado envolvido em críticas políticas pelas vendas de activos não produtivos, com prejuízos elevados, e sugestões de que poderia estar a beneficiar aquela 'private equity'.
Nos termos do contrato de venda, o Novo Banco não pode fazer vendas de activos à Lone Star ou a entidades relacionadas com esta.
"O Novo Banco nunca fez qualquer venda de activos (não produtivos) à Lone Star. Há uma rigorosa política de partes relacionadas. Nenhuma transação é passível de ser realizada à Lone Star ou a parte relacionada com a Lone Star", disse o CEO em conferência de imprensa.
Disse que "o Novo Banco sofreu, nos últimos três meses um conjunto de críticas sem precedentes, nomeadamente quanto à venda de activos, mas é seguramente o banco mais escrutinado em Portugal" - pelo Banco Central Europeu, Fundo de Resolução, agente de verificação.
"O que se passa são apenas falsas polémicas", afirmou.
António Ramalho comentava os resultados de uma auditoria requerida pelo Parlamento e que foi feita pela Deloitte às contas do Novo Banco entre 2000 e 2018.
Esta auditoria foi entregue esta semana ao Governo, aos deputados, ao Banco de Portugal, ao Fundo de Resolução e ao banco. O Governo enviou-a para o Ministério Público.
O CEO disse que, "das perdas de 4.000 milhões de euros (ME) apuradas pela auditoria, mais de 95% são perdas resultantes de activos originados previamente a 2014".
"Após a resolução e a venda (à Lone Star) nao existiram problemas grandes que a auditoria verifique", disse.
O líder do maior partido da oposição Partido Social Democrata, Rui Rio, afirmou na terça-feira que é importante para perceber "o que aconteceu com todas essas perdas".
Rui Rio disse que é preciso ver "se o dinheiro que os contribuintes têm pago para o Novo Banco está correcto ou incorrecto", adiantando: "aquilo que eu suspeito é que o Governo tem pago uma factura que vai muito para lá daquilo que era justo que acontecesse".
Mas, António Ramalho disse que a venda dos activos não performantes é uma imposição da Comissão Europeia e que o Novo Banco foi o banco supervisionado pelo BCE que "mais reduziu o nível de malparado", de 33,4% em 2016 para 11,8% em 2019.
No primeiro semestre de 2020, o prejuízo consolidado do Novo Banco agravou-se em termos homólogos 38,8% para 555,3 milhões de euros (ME), após um reforço de provisões no montante de 351,3 ME com a actividade herdada do colapsado Banco Espírito Santo e a pandemia do coronavírus.
No entanto, o Novo Banco recorrente, que inclui toda a actividade bancária core, teve um lucro de 34 ME.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua em Lisboa)