O Serviço Nacional de Saúde (NHS) de Inglaterra vai disponibilizar um novo medicamento para perder peso no próximo ano, mas menos de 10% das pessoas elegíveis terão acesso ao mesmo.
Algo que acontece numa altura em que os Governos de toda a Europa se debatem com a forma de abordar a procura crescente de tratamentos de grande sucesso contra a obesidade.
O National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido recomenda o Mounjaro, da empresa Eli Lilly (NYSE:LLY), para doentes que sofrem de obesidade e de, pelo menos, um problema de saúde relacionado com o peso, como a hipertensão arterial, doenças cardíacas ou diabetes.
Este critério torna 3,4 milhões de doentes em Inglaterra elegíveis para o tratamento, mas, nos próximos três anos, o acesso será restringido a cerca de 220.000 pessoas que tenham as "necessidades clínicas mais elevadas" - ou seja, 6,5% da população total elegível - numa tentativa de minimizar o impacto noutros serviços de saúde.
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Prevê-se que o Mounjaro custe ao Serviço Nacional de Saúde (NHS) de Inglaterra cerca de 317,2 milhões de libras esterlinas (381,1 milhões de euros) por ano até ao terceiro ano de disponibilização do medicamento, podendo ser necessários 12 anos para a sua total implementação.
"O mundo será muito diferente daqui a três anos e foi por isso que tomámos a decisão inédita de rever a forma como este medicamento será administrado aos doentes nessa altura", afirmou Jonathan Benger, diretor médico do NICE, num comunicado.
"Isto significa que muitas pessoas terão de esperar".
Debate na Europa sobre o acesso a medicamentos para a obesidade
A decisão é a mais recente medida governamental para limitar o acesso a medicamentos contra a obesidade, depois de, em outubro, França ter optado por disponibilizar o Wegovy da Novo Nordisk (CSE:NOVOb) apenas a doentes que o paguem do seu bolso.As autoridades de saúde europeias têm vindo a debater a possibilidade de pagar estes medicamentos, preocupadas com o potencial impacto nos seus orçamentos e, nalguns casos, com as leis que proíbem o financiamento público de medicamentos de "estilos de vida".
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Os medicamentos, conhecidos como agonistas dos recetores de GLP-1, atuam suprimindo o apetite das pessoas e são utilizados para tratar a diabetes e a obesidade.
Num ensaio clínico, os doentes que tomaram tirzepatide - que é vendido como Mounjaro e já está aprovado como tratamento para a diabetes na União Europeia - perderam 21% do peso corporal em 36 semanas.
No entanto, as pessoas que deixam de tomar medicamentos contra a obesidade voltam frequentemente a ganhar peso, o que leva os Governos, os fabricantes de medicamentos, as seguradoras de saúde e o público a debater se estes medicamentos devem ser tomados durante toda a vida.
O serviço de saúde do Reino Unido, por exemplo, tinha recomendado anteriormente que as pessoas tomassem Wegovy durante um período máximo de dois anos, devido à preocupação com a relação custo-eficácia a longo prazo do medicamento.
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O NICE afirmou que, apesar do "custo considerável" do Mounjaro, espera-se que poupe dinheiro ao NHS ao reduzir o risco de complicações de saúde relacionadas com a obesidade.
Mesmo assim, Kath McCullough, conselheira nacional especializada em obesidade do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido, advertiu que os medicamentos contra a obesidade "não são uma bala mágica".
"Têm de ser prescritos por um profissional de saúde, juntamente com programas que ajudem as pessoas a perder peso e a ter uma vida mais saudável, alterando a sua alimentação e atividade física - e é também crucial que seja dada prioridade aos que mais precisam deles", afirmou McCullough.