(Acrescenta citações do Primeiro-Ministro)
Por Catarina Demony
LISBOA, 21 Jan (Reuters) - Esmagados pelo número recorde de pacientes da COVID-19, os médicos dos hospitais portugueses dizem estar exaustos e desesperados, enquanto o governo ordenou o fecho de todas as escolas e universidades durante 15 dias a partir de sexta-feira para tentar abrandar o contágio.
"Não temos recursos humanos suficientes", disse Guida da Ponte, chefe adjunta de um sindicato de médicos perto de Lisboa, acrescentando que, embora houvesse falta de camas de cuidados intensivos, mais poderiam ser criadas "mas não temos os profissionais".
"Os médicos estão desesperados. A palavra é realmente 'desespero'".
O país mais pobre da Europa Ocidental lidou bem com a primeira vaga da pandemia no ano passado, mas foi inundado nas últimas semanas por uma variante mais rápida do vírus, registando as taxas de infecção e morte mais elevadas do mundo.
As ambulâncias têm estado em fila de espera fora dos hospitais, à espera que as camas fiquem disponíveis. Um homem idoso morreu numa ambulância depois de esperar dentro do veículo durante três horas na terça-feira, na cidade de Portalegre.
"Temos o dever cívico de reforçar o nosso confinamento", disse o Primeiro-Ministro Antonio Costa, citando uma variante contagiosa de rápida propagação do vírus detectado pela primeira vez na Grã-Bretanha, que, segundo ele, poderá atingir 60% dos novos casos de COVID-19 nas próximas semanas, contra cerca de 20% agora.
"Face a esta nova variante e à velocidade da sua transmissão devemos ter cautela e interromper todas as actividades escolares durante os próximos 15 dias", disse ele.
Os pais das crianças em idade escolar seriam autorizados a faltar ao trabalho e receberiam apoio, enquanto os tribunais também suspenderiam os casos não urgentes, disse ele.
A Igreja Católica disse anteriormente que suspendia todas as missas públicas a partir de sábado.
Sem esperar pelo anúncio do governo, alguns decisores locais estavam a exortar os pais a manter os seus filhos em casa.
"Não é bom vir às aulas porque há grupos de alto risco que poderíamos infectar", disse Frederico Nunes, 20 anos, um estudante universitário. "Penso que é irritante porque isto poderia ter sido evitado se o governo tivesse adoptado aulas onine".
Ricardo Mexia, chefe da associação de médicos de saúde pública, disse que as autoridades não se tinham preparado para o novo surto de infecções após o relaxamento das restrições para as férias de fim de ano.
"A decisão de fechar escolas está a chegar demasiado tarde, mas é importante reduzir o contágio", disse ele.
"Não temos meios para realizar inquéritos epidemiológicos, não recrutámos pessoas suficientes, não treinámos pessoas... Receio que os números fiquem ainda piores".
Sob um confinamento que começou na semana passada, todos os serviços não essenciais estão fechados e as pessoas são instadas a ficar em casa.
O governo reconheceu que o contágio durante as férias desempenhou um papel importante, mas culpou o aumento dos casos, sobretudo na nova variante.
O número de mortes diárias atingiu um recorde de 221 na quinta-feira, elevando o total para 9.686 desde o início da pandemia. O país de 10 milhões de pessoas registou 13.544 infecções nas últimas 24 horas, abaixo do recorde de 14.647 registado na quarta-feira.
Portugal tem a maior média móvel do mundo de novos casos, com 1,044 por milhão de habitantes nos últimos sete dias, segundo o data tracker ourworldindata.org.
Para um rastreador global de coronavírus, abrir num navegador separado: https://graphics.reuters.com/world-coronavirus-tracker-and-maps/
Texto integral em inglês: (Reportagem adicional de Sergio Goncalves e Victoria Waldersee; Escrito por Ingrid Melander e Andrei Khalip; Editado por Janet Lawrence; Traduzido para português por Patrícia Vicente Rua)