Por Sergio Goncalves
LISBOA, 19 Mar (Reuters) - O PSD, sob a liderança do recém-eleito presidente Rui Rio, foi o partido com a maior subida nas intenções de voto dos portugueses, apesar do Partido Socialista (PS) que governa estar à beira da maioria absoluta, se as eleições legislativas se realizassem agora, segundo uma sondagem da Eurosondagem.
Nesta pesquisa da Eurosondagem para a estação de televisão SIC e o semanário Expresso, realizada entre 8 e 14 de Março, o PS aumenta o 'score' em 0,2 pontos percentuais face a Janeiro para 41,5 pct, ficando próximo de ter uma maioria dos deputados do Parlamento.
Contudo, o Partido Social Democrata (PSD), cujo novo líder Rui Rio foi confirmado em Congresso há cerca de um mês, registou um aumento de 1,5 pp das intenções de voto para 28,4 pct - a maior subida deste partido desde 2015.
Portugal terá eleições Legislativas entre Setembro e Outubro de 2019, quando termina a actual Legislatura de quatro anos do Governo minoritário socialista, que é apoiado pelos partidos euro-cépticos à sua esquerda - Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP).
Esta sondagem assenta em 1010 entrevistas telefónicas e a margem de erro é de 3,08 pct.
CONVERSAÇÕES PS/PSD
Rui Rio tem defendido conversações com o PS para reformas pois "Portugal tem um conjunto de estrangulamentos estruturais que nenhum partido está capaz de resolver isoladamente, e que condicionam fortemente o seu desenvolvimento".
"Um partido que põe o país em primeiro lugar é um partido disponível para, em nome do superior interesse nacional, procurar dialogar e resolver com os outros, o que sozinho jamais conseguirá com a indispensável eficácia", disse Rui Rio, no seu primeiro discurso como presidente do PSD em 17 de Fevereiro.
A liderança de Rui Rio aliviou a crispação entre o Governo e o PSD liderado pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho que, apesar de ter ganho as eleições, não teve o apoio maioritário dos deputados e viu nascer uma aliança dos partidos de esquerda para a formação de um Governo socialista.
Esta aliança - apelidada de 'geringonça' - "virou a página da austeridade" imposta pelo anterior Governo de centro-direita no âmbito do recente resgate externo do país, mas conseguiu cortar o défice para o nível mais baixo em mais de 40 anos de Democracia e a economia cresceu ao ritmo mais forte desde 2000.
Após a eleição de Rui Rio, o economista que foi presidente da Câmara do Porto, o PSD e o Governo já encetaram negocições em dossiers cruciais para o futuro do país: a reprogramação dos fundos estruturais do Portugal 2020 e a preparação do Portugal 2030; e a descentralização.
Numa segunda fase, poderão avançar conversações sobre áreas chave como Justiça ou Segurança Social.
"Parece-me, obviamente, positivo para o país que haja, hoje, uma nova disponibilidade por parte do maior partido da oposição para negociar", afirmou recentemente o primeiro-ministro António Costa, que antes de liderar o Governo era o presidente da Câmara de Lisboa.
ESQUERDA AVISA
Contudo, os partidos à esquerda do PS, que garantem uma maioria no Parlamento, não têm visto com bons olhos a aproximação do PS ao PSD.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse anteontem que há "uma convergência que está em curso em novos domínios, dos fundos comunitários à descentralização, dando expressão a uma espécie de Bloco Central informal".
"Anda mal o PS se procura a solução para os problemas nacionais com o PSD e CDS, em vez de romper com as políticas do passado de exploração e empobrecimento do povo e de afundamento do país", alertou Jerónimo de Sousa.
Segundo a pesquisa da Eurosondagem, o BE caiu 0,8 pp nas intenções de voto para 7,7 pct, enquanto a CDU do PCP sobe 0,4 pp para 7,3 pct.
O CDS-Partido Popular, que esteve no anterior Governo de centro-direita com o PSD, desceu 0,4 pp para 6,6 pct nas intenções de voto. O PAN-Pessoas, Animais, Natureza caiu 0,3 pp para 1,5 pct.
O Governo português vai prosseguir políticas para garantir um modelo económico sólido, alicerçado em reformas estruturais e na gestão equilibrada das contas públicas para sustentar o crescimento, disse o Ministério das Finanças, após a Standard & Poor's (S&P) ter mantido o rating do país em 'investment grade'.
Na sexta-feira, o Conselho de Finanças Públicas (CFP) disse que está mais optimista do que o Governo quanto à consolidação das contas públicas de Portugal, estimando que o défice se tenha fixado em 1 pct do PIB em 2017 e vendo-o descer para 0,7 pct em 2018, com contenção de despesa e redução sustentada da dívida.
O CFP lembrou que, em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7 pct e projecta uma desaceleração para 2,2 pct em 2018, em linha com o estimado pelo Executivo, mas que "fará com que o produto gerado pela economia portuguesa finalmente ultrapasse o nível de 2007".
Na semana passada, o primeiro-ministro voltou a rever uma décima em baixa o défice de 2017 para perto de 1,1 pct do PIB, contra 2,0 pct em 2016, tendo o país conseguido pelo segundo ano seguido o menor défice em mais de 40 anos de Democracia. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)