(Acrescenta citações analistas)
LISBOA, 8 Fev (Reuters) - Portugal colocou 1.180 milhões de euros (ME) de 'bonds' a 5 e a 7 anos, com as taxas a agravarem com sinais crescente de inflação e aumento do risco político na Europa, que penaliza mais o pouco líquido mercado de dívida portuguesa.
O montante indicativo era entre 1.000 e 1.250 ME.
O Tesouro colocou 550 ME a sete anos, com a taxa a fixar-se nos 3,668 pct, contra 2,817 pct na última emissão comparável, num leilão em Setembro de 2016.
Na maturidade a cinco anos, Portugal colocou 630 ME e a taxa fixou-se em 2,753 pct. A 23 de Novembro, Portugal emitiu a 2,112 pct nesta maturidade, já após o choque no mercado de 'bonds' provocado pela expectativa de inflação com a política económica da Administração Trump. P4N19J01G
Hoje, a 'yield' da dívida a 10 anos negociada em mercado secundário PT10YT=TWEB segue em torno de 4,22 pct, a sete anos PT7YT=RR em 3,44 pct, e a cinco anos PT5YT=TWEB em 2,06 pct.
"Há sinais inflacionistas que se começam a sentir na Europa e o mercado antecipa isso, sobretudo nos prazos mais longos. Os efeitos de riscos políticos em França e Itália também acabam por pesar", disse Filipe Silva, gestor dívida do Banco Carregosa, no Porto.
"O facto do mercado de Bonds de Portugal ser menos líquido faz com que a dívida portuguesa seja mais afectada, logo a seguir à da Grécia", adiantou.
"Não se pode dizer que tenha sido excelente, atendendo às circunstâncias dos mercados", disse Ricardo Marques, trader de dívida da IMF-informação mercados financeiros, em Lisboa, lembrando que na maturidade a 7 anos pagou-se mais caro, ao nível mais alto desde Fevereiro de 2016, e talvez por isso desta vez o Tesouro tenha colocado um montante maior a 5 anos".
Em termos de procura, o rácio 'bid to cover' a sete anos foi de 2,02 vezes, contra 1,68 pct na operação comparável anterior, e a cinco anos de 1,5 vezes contra 1,9.
Os spreads de taxas dos títulos de dívida pública a 10 anos de Itália e França sobre a Alemanha atingiram novos máximos de vários anos nesta quarta-feira, com os investidores preocupados com os riscos políticos na Europa. L5N1FT20F
Filipe Silva sublinhou que "Portugal já tinha ajustado em alta a curva de rendimentos, era impossível ter agora taxas mais baixas e acompanhou a subida de taxas sentida no prémio de risco da Europa toda".
"Estamos a pagar cada vez mais alto. É o reflexo da situação que se vive na Europa com os 'spreads' de França e Itália a alargarem face à Alemanha, o que já não se via há quatro e seis anos", disse Ricardo Marques.
Lembrou que "há uma percepção de risco maior na Europa, quer político quer económico".
"Há o risco da Frente Nacional ganhar as eleições em França, o risco dos credores internacionais não chegarem a entendimento para desbloquearem a última tranche de ajuda à Grécia e há a situação da banca em Itália. E há ainda todas as incertezas em torno das relações comerciais com os EUA", adiantou.
Na sexta-feira passada, a agência de notação Fitch manteve o 'rating' de Portugal em território de 'lixo' 'BB+' e perspectiva estável dado que os riscos macro económicos domésticos moderaram, mas alertou que os crescentes riscos externos, como o proteccionismo e eleições na Europa, podem pressionar em alta os custos de financiamento do país. a Moody's disse que os bancos portugueses deverão continuar a estabilizar os fundamentais em 2017, mas que estão fracos e será difícil aumentar a rentabilidade. Esta agência de notação alertou para o elevado nível de malparado. (Por Patrícia Vicente Rua, Sérgio Gonçalves e Daniel Alvarenga; Editado por Daniel Alvarenga)